quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sem acordo, aeronautas devem parar amanhã



Escrito por TÂNIA MONTEIRO e EDUARDO RODRIGUES   
Qua, 22 de Dezembro de 2010 10:07
Após mais de três horas de reunião ontem no Ministério Público do Trabalho (MPT), aeronautas e aeroviários não chegaram a um acordo com as companhias aéreas para evitar a paralisação do setor a partir de amanhã. A situação já preocupa o governo, que considera que os sindicalistas estão fazendo "terrorismo" às vésperas do fim de ano e, por isso, ameaça acionar a Justiça e aplicar multas altíssimas.
CAOS
Mesmo que não haja greve dos aeronautas e aeroviários neste fim de ano, quem planeja viajar no Natal e no Ano Novo deverá encontrar "um verdadeiro caos nos aeroportos do País", na avaliação do consultor econômico do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Cláudio Toledo. As empresas aéreas já venderam mais assentos do que comporta a estrutura aeroportuária brasileira. "O caos já está instalado. Essa história de que a greve é que causará o problema é um discurso terrorista das empresas", afirmou Toledo.

REAJUSTE
Os aeronautas exigem um reajuste de 15% e os aeroviários, de 13%, mas a proposta apresentada pelos empresários é da correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é de 6,08%, mais meio ponto porcentual de ganho real, o que resulta em 6,58%.
De acordo com o procurador-geral do Trabalho, Otavio Brito Lopes, apesar das tentativas, ainda há um distanciamento muito grande entre os dois lados envolvidos na disputa.
"Entre 6,58% e 15%, há espaço para continuar a negociação até o dia 23", afirmou. Segundo o procurador, as empresas afirmaram, na reunião, que não há mobilização suficiente dos trabalhadores para o início da greve, mas o MPT estará de plantão, observando o movimento para "garantir o atendimento das necessidades básicas e essenciais da população, que envolvem o direito à saúde, segurança e vida".
"INTERESSE NACIONAL"
O Ministério da Defesa está acompanhando, preocupado, o desenrolar das negociações e ameaça endurecer em caso de greve no setor por considerar que esta é "uma questão de interesse nacional". O ministro Nelson Jobim determinou que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) dobre os esforços na fiscalização das companhias aéreas e já avisou que, se houver tumulto nos aeroportos, os sindicatos receberão multas pesadas.
Para isso, o governo já tem pronta, em mãos, para ingressar na Justiça a qualquer momento, uma medida cautelar para punir os representantes sindicais das categorias. Na visão do Executivo, eles estão fazendo "terrorismo" porque sabem que os prejudicados serão terceiros. O governo quer evitar um novo caos aéreo em uma época de festas de fim de ano, com grande movimentação nos aeroportos, que já estão lotados. Isso deixaria uma marca na gestão Lula justamente em seus momentos finais.
Para o Executivo, "não é possível que terceiros sejam atingidos por conflitos trabalhistas". O ministro da Defesa tem reiterado que é preciso garantir o direito dos passageiros de voar.
Segundo Otavio Lopes, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) mantém um ministro de plantão para julgar qualquer medida cautelar que possa ser impetrada pelo governo ou por outra parte que se sentir prejudicada. "É óbvio que uma greve amanhã vai causar inconveniências para a sociedade, mas há o compromisso dos trabalhadores de que a paralisação, assegurada constitucionalmente, ocorrerá dentro da normalidade."
JUSTIFICATIVAS
O consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Odilon Junqueira, disse que a proposta de aumento salarial de 6,08% foi a "única possível", mas os empresários também propuseram antecipar um novo reajuste para maio de 2011. "Não podemos deixar a sociedade refém de uma situação como essa." Já o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Marcelo Schmidt, disse que a proposta apresentada pelos empresários foi uma "provocação". "Estamos prontos para a greve."
"É para a segurança da sociedade. Se não houver respeito à greve, pode haver acidentes", completou o presidente do Sindicato dos Aeronautas, Gelson Dagmar Fochesato, que ressaltou que as tripulações estão "com os limites de voo esgotados".

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